terça-feira, 1 de junho de 2010

Jorge Amado e o exercício de escrever


Eu tava lendo que o Jorge Amado tinha o hábito de reescrever o mesmo trecho do texto várias vezes até chegar no ponto que ele considerasse ideal, e tinha vários críticos em sua própria casa, entre eles a grande parceira Zélia Gattai, que revisava minuciosamente tudo o que ele escrevia, corrigia erros de português e também discutia com ele o enredo, o que acabava resultando em longos e interessantes debates.

E o mais irônico é que o escritor baiano era considerado pelos críticos e até pelos próprios colegas um profissional que, apesar do imenso talento, parecia apresentar em seu estilo "pouco erudito", uma certa prequiça, um certo desleixo. Engraçado como a imagem que se constrói em torno de uma pessoa pode se tornar um mito muito maior do que a própria realidade. Seu texto direto e de linguagem simples, acabou por vender mais de 20 milhões de livros, em mais de 55 países. E a grande verdade, no caso, se configurava no fato de Jorge Amado ser muito detalhista e perfeccionista com tudo o que escrevia. É como se fala por aí, o simples na prática é muito difícil de se obter.

E ele fazia questão de guardar todos os originais que produzia, até os não publicados, acervo que acabou sendo doado pelo escritor à Fundação Casa de Jorge Amado, e que vai ser disponibilizado ao grande público em breve na internet.

Mas a melhor mensagem que fica desta história, é que se grandes escritores como Jorge Amado buscam ao praticar de forma sistemática a evolução de sua produção textual, eis um grande exemplo de que esse exercício é muito favorável para quem escreve mas não confia tanto quanto deveria em seu próprio talento. Talento se constrói. Talvez cursos e oficinas possam ajudar, mas o melhor é o próprio escritor, além de ler bastante para buscar suas referências, desenvolver ele mesmo a sua técnica, buscar seu estilo próprio, interiorizar-se e descobrir a sua essência.

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