segunda-feira, 28 de junho de 2010

os livros e o pecado da censura - a copa e o brasil

Refletindo sobre a questão da censura, e de como ela anda tão forte em uma era em que a liberdade de expressão deveria ser cultivada como nunca, eu me deparei com um texto antigo do blog do escritor Marcelo Rubens Paiva, tratando dessa mesma questão, só que em outra instância: livros de autores brasileiros recolhidos pelas Secretarias de Educação pelos Estados brasileiros, por causa de seu conteúdo, considerados obscenos e ofensivos. Será que os jovens e crianças de todo o país deveriam somente ler historinhas perfeitas de um mundinho comercial de margarina? Será que um mundo real, com descontruções, vida real, romance e sim, palavrões, não o ajudaria a formar seu próprio julgamento? Sim, porque é subestimar muito uma pessoa achar que lendo "Cristiane F.", ela vai sair correndo se viciar e se prostituir, ou lendo "Romeu e Julieta", pensar que a pessoa vai pensar em cometer suicídio. O livro é a imaginação, é nos permitir formular o pensamento, e se a escola usar da hipocrisia para mascarar esse processo, será um local inútil. Em seu próprio texto, Marcelo cita autores memoráveis, como Machado de Assis, Nelson Rodrigues, Dostoievski, Shakespeare, Mario de Andrade, Hemingway, e até a mitologia grega, que seguindo o critério adotado pelas entidades de educação nacionais, nunca figurariam em nenhuma escola do país, grande burrice e ótima analogia do escritor. Me fez lembrar de um livro maravilhoso que eu li na adolescência, "Capitães de Areia", de Jorge Amado, traz essa transgressão e deveria muito ser lido nessa fase da vida, um livro lindo.




Mas eu cheguei a este texto pensando que a censura pode ser declarada, como nesse caso; violenta, como foi no caso da ditadura, e pode ser velada, quando as pessoas usam a coação para tentar te fazer parar. Em todos esses casos, a censura é muito ruim, ela tenta prender, dificultar o caminho de quem está tentando traçar seu próprio destino. A censura podera ser considerada um pecado, tal como a inveja. Além de fazer um julgamento erroneo, baseado na mediocridade, ela nunca deixa de ser uma violência, pois tenta inibir a livre expressão, e o exercício da imaginação e do pensamento. Todos os escritores maravilhosos que o Marcelo Rubens Paiva citou, assim como ele mesmo, sofreram com essa restrição moral, porém isso os tornou mais fortes. Veja Chico Buarque, por exemplo. Foi um dos casos que mais sofreu com a censura, teve que criar um pseudônimo, e mesmo assim não adiantou, seus textos mais inocentes eram rejeitados e essa situação, em primeiro momento desfavorável, o tornou em um grande escritor e um dos maiores compositores da música brasileira. Não adianta direcionar o pensamento de quem já nasceu pensando por si mesmo, quem é inteligente não vai pela cabeça dos outros. E nisso os livros são mesmo maravilhosos, nos auxiliam a ver e a nos deixar julgar o que é o mais belo e o mais podre da vida, do mundo e das pessoas.





Bem, o texto que eu citei do Marcelo é do ano passado, mas eu tenho esse hábito, ainda mais com a internet. Antes da internet eu lia jornal velho e achava a coisa mais interessante do universo (mania de louco). Entretanto o Marcelo fez um texto atual no blog dele sobre a tendência do brasileiro em torcer contra a Seleção Brasileira e a mania de torcer para a Argentina, segundo ele pela empatia do técnico argentino Diego Maradona, mas também mencionando o pouco brilho dos nossos jogadores. A sua frase final parece engloba o pensamento comum, pelo menos representa o meu:  "Esta seleção não representa o que fomos e somos."



Eu sempre vou acompanhar e torcer para o Brasil na Copa do Mundo, mas confesso minha nostalgia e um pouco de melancolia ao ver essa seleção de hoje e pensar nas seleções de Pelé e Garrincha, aquela maravilhosa seleção da 70, e até a de 94. Eu gosto do futebol bem jogado, do futebol alegre. Sou brasileira, torço muito para o Brasil e é claro que se a seleção brasileira chegar na final eu vou ficar feliz, apesar de achar que não merece nem um pouco, porque nessa Copa por exemplo, Argentina e Alemanha têm merecido muito mais.

Nenhum comentário: