sábado, 17 de julho de 2010

Durante toda essa semana o Beco dedicou e ainda está dedicando uma programação toda especial, que faz parte das comemorações ao dia internacional do rock, celebrado na última terça feira, dia 13. Neste dia, além de ter sido realizado três shows simultâneos e gratuitos de três bandas em três estações do trensurb, também foi realizado à noite, um grande show que contou com a participação de várias bandas gaúchas. A programação faz parte do Orgulho Rock, evento idealizado por Vitor Lucas, dono do Beco, que fala aqui no blog sobre essa história, mas também conta um pouco sobre a história da casa que ajudou e continua ajudando casa vez mais a cena rockeira e independente.



Orgulho Rock
Esse projeto começou ano passado. A gente fez uma Gig Rock no dia mundial do Rock, há dois anos, porque a gente se tocou que Porto Alegre não tinha uma programação celebrando uma das datas mais importantes para o rock, não havia uma ação para o dia mundial do rock. No segundo ano a gente resolveu trabalhar com esse evento chamado Orgulho Rock, que teve uma repercussão bem legal, a gente fez shows em quatro estações do metrô, fez show do lado do Gasômetro, ali naquele palco de pedra, foi a Bidê ou Balde que tocou ali e foi um absurdo de gente que viu...



A gente até acabou recebendo um monte de reclamações quanto aos shows no Trensurb, porque acabou atolando as estações e isso foi maravilhoso, que bom né, porque era essa mesmo a idéia, tanto que esse ano o patrocinador do ano passado pediu: olha a gente quer de novo... Fizeram questão de repetir os shows nos mesmo lugar, até aumentaram o patrocínio, era uma coisa que a gente até tinha intenção de fazer, mas fizemos com maior estrutura. Só que além disso estendemos a programação para a semana toda e resolvemos no meio disso trazer uma atração internacional, o Shy Child e a gente queria fazer o show na Redenção, por questões burocráticas não foi possível, então vamos fazer na prainha do Gasômetro esse ano, com Tenente Cascavel e mais três bandas, não só a Bidê ou Balde como foi o ano passado. Na verdade esse projeto Orgulho Rock cresceu, tomou uma proporção maior, e como ele tem uma simpatia muito grande com a prefeitura de Porto Alegre que nos ajudou em várias ações, ficou como a comemoração de Porto Alegre em homenagem ao Dia Mundial do Rock, sabe? Até pela época em que rola, no final do ano tem muitos festivais, tanto os nacionais como a própria Gig Rock, então esse evento ficou um pouco mais isolado, tem uma repercussão boa, acho que vai crescer bastante. Nossa intenção é trabalhar uma programação mensal dedicada ao rock.




A relação com as bandas independentes
Trabalho com produção há dezessete anos. Aos dezenove anos eu tive a minha primeira casa noturna. Antes de abrir o Beco eu trabalhava muito com Prefeituras, fazendo feiras e festas temáticas, tipo Festa do Peixe, do Camarão e outros. E eu senti que tinha um círculo de bandas que estavam desamparadas, que queriam tocar nesses eventos mas não sabiam como chegar, e eu passei a receber um monte de material de bandas independentes, que queriam tocar apenas pelo transporte, só para aparecer. E eu pensei: que bandas são essas que querem tocar apenas pelo transporte, que bandas são essas que querem pagar pra tocar?
E aí eu comecei a estudar essas bandas e ver o que estava acontecendo. Aí descoberto isso, eu descobri esse nicho do indie e tudo mais, que tava sendo trabalhado e que tava aflorando no Brasil inteiro e no mundo e que em Porto Alegre ainda não tinha um respaldo. E foi em 2004 que criamos o Beco, inicialmente um bar pequeno, com um palco pequeno. O selo e o festival acabaram sendo conseqüência do trabalho que foi feito. A gente não pensava em ter toda essa proporção que a gente tem hoje. Em um bar que a gente começou para ter uma capacidade de 150 pessoas, a gente ampliou para 400, e ele vivia lotado, botava bandas lá e tava dando resposta, a gente abria o bar de quarta a segunda, só não abria na terça porque não queria, então tinha mercado pra isso, e isso começou a crescer. Hoje a gente vê que há outras casas com no mesmo estilo que nós. Mas as duas casas do Beco colocam uma média de 1500 pessoas por dia, estamos falando em 3000 por dia em um universo que tinha 200. Claro que a gente se sente um fermento de tudo isso que aconteceu.





Quando eu comecei a me engajar com toda essa história do independente, do indie e tudo mais, começou a se abrir para mim um outro universo que existia, que era no caso a abrafin (associação brasileira dos festivais independentes), aonde se encontram todos os principais festivais que tem no Brasil. E eu fui levado para essa associação.

A primeira Gig Rock era para ser somente uma festa, com bandas de um lado e discotecagem do outro, em uma fábrica abandonada, só que a resposta foi tão boa, a gente colocou quase duas mil pessoas, que eu pensei, cara isso aí é um produto, e as pessoas que foram no lugar e me disseram Vitor, isso existe no Brasil inteiro, e começaram a me contar e eu fui conferir isso de perto, entendi a moral que eles queriam passar, e pensei que era exatamente isso que eu queria para a Gig Rock, e nós já estamos na nossa sétima edição. 


A edição do Dia Mundial do Rock a gente trabalhou um evento corrido de dez dias, com cinco bandas cada dia, quer dizer 51 bandas em dez dias. O dia que menos deu gente foram 3oo pessoas, foi um absurdo. E a gente encerrou com o Móveis Coloniais de Acajú, a primeira vez que eles vieram foi para esse evento e a gente misturou todos os gêneros, colocamos mod, indie, rock, clássico, hardcore, metal, tinha tudo. Me chamaram de louco por fazer isso, e é claro é um desgaste imenso. Mas eu tenho uma equipe boa, foi tranquilo.


Valentinos tocando na Estação Mercado do Trensurb


Aqui no sul é importante trabalharmos com o bairrismo, com as bandas daqui, mas também a gente inserir cultura, propor no meio disso coisas novas, porque a gente acaba mostrando que a gente está fazendo um trabalho de curadoria de verdade, não é só quem manda material pra nós a gente bota pra tocar, sabe.


São bandas boas que valem a pena as pessoas ouvirem, que nem Superguidis, Pública, Identidade, Valentinos e assim por diante. Eu puxei muito da didática, vamos dizer assim, de apresentar em shows, uma banda que o público já conhece e uma que o público deveria conhecer, e acho que isso fortaleceu muito o mercado, ajudou muito essa proliferação de bandas que existem hoje e transitam em Porto Alegre, e que são bandas de fora, como Vanguart, que a primeira vez que tocou aqui foi comigo, Móveis (Coloniais de Acaju) também, Rock Rocket tocou quase todas as vezes comigo, ou seja, a gente sempre puxou bandas que o público não tinha muito conhecimento, mas que a gente sabia que tinha potencial. O Móveis a última vez que tocou foi no Opinião! E eu fiquei orgulhoso, de saber que a gente já tinha trazido duas vezes já, e isso levou eles pro Opinião. A gente tá no caminho certo. A Mallu Magalhães por exemplo, a primeira vez que tocou em Porto Alegre, ela tocou no Beco! Ela colocou 900 pessoas na casa, a fila tava imensa, ela tinha recém explodido na internet. O segundo show dela saindo de São Paulo foi comigo!


Nós temos esse diferencial de trabalhar em Porto Alegre, nós temos esse papel de investir em novos artistas, de trazer eles pra cá, de trazer uma nova cultura pra cá. O beabá de discotecagem, de botar as pessoas para baixar música e discotecar, até isso o Beco tem um diferencial, que é o Gabriel (Machuca) e o Rafael (Schultz). Tipo, os guris são pesquisadores musicais, eles não baixam o que tá tocando na rádio, eles estão pesquisando, não precisam de influência, ficam fuçando em myspace, na internet, em um novo degrau, sabe, não se é um DJ baixando o disco inteiro dos Beatles, Stones, Strokes, e pronto. Mas tem as casas que adoram rodar só os hits e tal, então cada um tem que procurar a sua casa.



O rock gaúcho atual
Toda época tem uma nova fase, as bandas que há cinco anos atrás estavam despontando hoje já tem um respaldo, já circulam o Brasil inteiro, mas como a dinâmica de informação é muito rápida, essas bandas não terminaram de amadurecer e já estão no ápice. Já tá vindo uma nova safra e se ela bobear e não amadurecer, pode dar um problema, podem não conseguir emplacar um segundo disco, podem acabar virando bandas de um disco só, que aliás é meio que uma tendência mundial. Com esses fenômenos da internet, tu nunca sabe o que pode te atropelar, e subir mais rápido. O que acontece é que tem muita banda de qualidade, tem muita banda boa, fazendo um trabalho legal, mas o próprio mercado consegue sufocar elas, pedem tanta informação sobre elas que isso acaba ao invés de ser benéfico, acaba gerando um efeito contrário. Mas tem uma safra boa agora, Volantes tá aí, está fechando com uma gravadora nacional; os Valentinos, que é do nosso próprio selo, é uma história que aconteceu bem legal e que tem uma aceitação muito boa, a repercussão do primeiro disco foi muito boa, posso falar que é uma banda da nova safra que tá legal; e todas essas bandas que estão aparecendo. Eu lembro de uma entrevista que eu tava dando há seis anos atrás falando de Pública, Superguidis, Identidade, Efervescentes e Tomate Maravilha. Então, seis anos atrás eu dei esses exemplos e agora eles estão no topo, sabe. É legal, isso, é um ciclo. É legal ver todo esse crescimento desse pessoal. Eu sempre falo que a gente se recolocou como uma cidade rockeira no Brasil graças a toda essa movimentação que foi feita por essa turma. Eu acho que o Beco foi a plataforma, mas a ajuda das bandas foi incisiva nisso, a gente só viabilizou todo esse trabalho. Teve um monte de bandas que foram nas roubadas com a gente, que foram por cachês irrisórios, ou até sem cachês para poder fomentar toda essa história, sabe. Eu também tive um monte de prejuízos, claro que hoje estou colhendo os frutos, mas foi todo um trabalho, com mais casas de rock, mais bandas de rock, mais coragem para quem quer montar uma banda de rock, porque sabe que vai ter estrutura que suporta e a cidade inteira ganhou com isso. Nos sentimos meio pais dessa revitalização do rock, e é legal isso.


Duo novaiorquino Shy Child


Para quem quiser conferir: hoje tem show da banda Shy Child, que desembarcou de Nova Iorque para mostrar suas músicas no Beco em um show único no Brasil; domingo tem show das bandas Tenente Cascavel, Identidade, Efervescentes e Valentinos no Beco (Independência, 936). Uma iniciativa muito bacana que está sendo promovida conjuntamente com o Orgulho Rock é a coleta de donativos e agasalhos para a campanha do agasalho 2010, e sempre é bom ajudar.










 



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