quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Os heróis reais

Os jogos Olímpicos são tempos de assistirmos a histórias de heróis de verdade, que quebram recordes, vencem barreiras, em busca do tão sonhado ouro, que está simbolicamente representado em uma medalha. Mas as medalhas são muito poucas, principalmente as de ouro. Seria então injusto, que desconsiderássemos todo o esforço de cada atleta que viajou à Pequim com o objetivo de lutar por essa medalha, mas por algum motivo, não conseguiu. Quero contar os casos antagônicos de dois heróis olímpicos reais, Michael Phelps e Eduardo Santos.





Michael Phelps é mundialmente conhecido como o maior alteta olímpico de todos os tempos, por ser o maior vencedor na história dos Mundiais e na história das Olimpíadas. Já superou marcas e recordes, tanto que agora supera suas próprias marcas. Em Pequim, já conquistou seu objetivo, bater o recorde dos 4x100m livres, que pertencia à Mark Spitz, e mais 6 medalhas de ouro.

Ele já nasceu em um país de oportunidades, mas é verdade que seu físico ajudou. De Baltimore, nascido em 30 de junho de 1985, possui braços excepcionalmente compridos(envergadura de 2 metros) para a sua altura(1,92m), e pernas curtas.

Sua estranha proporção curiosamente o torna perfeito para nadar, pois braços longos permitem braçadas fortes e pernas curtas flutuam na água. Phelps é quase como um peixe.

Michael aprendeu a nadar aos 7 anos. Aos 11 quebrava o recorde dos EUA 100m mariposa para a sua idade e chamou a atençao do técnico Bob Bowman. Naquele ano de 1996, Bob perguntou para a mãe de Michael, Debbie, se poderia tranferir o garoto para o North Baltimore Aquatic Club, pois havia traçado um plano para treiná-lo até os Jogos Olímpicos de 2012.

- "Eu pensei: Esse homem é louco" , disse a mãe de Phelps.

Mas Bob somente acreditou no potencial de um menino genial, que continua supreendendo a todos. inclusive a quem ele superou, Mark Spitz.

- "O que o diferencia dos outros é o seu espírito, sua determinação e a sua capacidade de dominar as suas emoções e as suas necessidades físicas, mesmo com dor ou cansaço. É capaz de se poupar nas eliminatórias, sem ter feito o melhor tempo e em seguida, vencer com um recorde mundial ", avaliou em seu blog o ex-nadador americano, foi recordista e vencedor de sete medalhas da Olímpiada de Munique.






Eduardo Santos é um guerreiro. Nascido em São Caetano no dia 22 de abril de 1983, pobre em um país como o Brasil, que não investe nem em educação nem em esporte, muito pelo contrário. Mesmo assim resolveu ser esportista, judoca, foi atrás de seu sonho mesmo sem incentivo de ninguém. Sem patrocínio, sem estrutura. Um dia, estava com uma lesão séria no pé, precisava operar. Poderia naquele momento até desistir, pois cirurgia é cara, não há condições, no Brasil a saúde é cara, fim do caminho. Mas Eduardo Não desiste, ele tem amigos. Carlos Honorato, medalhista olímpico e companheiro de clube, doou um agasalho seu para que Eduardo fizesse uma rifa e pudesse custear a cirurgia. Quando houve a seleção para a Olimpíada de Pequim, Carlos Honorato sofreu uma virose, e não pode participar da seletiva. Eduardo assumiu o seu lugar e foi selecionado, sem ter nenhuma experiência internacional, sem ter sequer passaporte. Ele viajou corajosamente de São Paulo, tendo como única experiência internacional um Sul-Americano que participou em Brasília. Não tinha nem faixa preta, ficou amargando nove anos na faixa marrom porque não tinha dinheiro para passar de categoria. A Confederação o anistiou de pagar para que ele pudesse competir.



Chegando em Pequim, o novato e longe de ser favorito Eduardo derrubou seus três adversários e surpreendeu todo mundo, nas quartas de final acabou sendo derrotado pela arbitragem que escolheu a vitória do francês. Lutou como um nobre guerreiro e quando foi interrogado pela imprensa, somente respondeu contendo o choro: "Peço desculpas ao meu pai e minha mãe por não ter sido competente o suficiente para derrubar os adversários"



Pedir desculpas? Por nascer em um país que não te deu nada? Por você ir à Pequim, com a cara e a coragem, tentar tudo e mais um pouco, e quase conseguir?
Não, o Eduardo, não merece desculpas. O Eduardo merece é aplausos. Ele e todos os nossos atletas brasileiros que estão tirando leite de pedra nas Olimpíadas, porque sem investimento, sem estrutura, sem educação, sem cultura, sem tudo isso não há como se querer vencedores ou uma nação vencedora, porque a nossa está a milhas disso.


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