quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009





Quando citei Cecília Meireles, logo pensei que tinha que falar também em Carlos Drummond de Andrade, afinal ele soube como ninguém traduzir o sentimento em poemas e também nutria uma grande admiração por Cecília, assim como também uma grande identificação, sobretudo na literatura e se manteve a amizade se correspondendo com ela por cartas, durante vários anos. Seu estilo sempre foi cheio de personalidade, inconfundível. Mas sua preocupação não era somente estética. A poesia de Drummond tinha muito conteúdo; e ele era tão versátil que abordava da política ao erotismo. Com certeza o maior poeta que o Brasil já teve.



O indivíduo Carlos deixou nos netos a lembrança dos livros que tirava de sua própria biblioteca para incentivá-los a ler, e fazia da livraria Leonardo da Vinci, no centro do Rio de Janeiro, sua sala de estar, aonde recebia fãs, jornalistas e escritores. Queria com isso preservar sua privacidade. Adorei saber disso, acho que não é recomendável muita exposição, hoje todos querem ser famosos e ele tinha tudo para isso, mas preferia ser discreto. Muito chique.




Lira do amor romântico

Atirei um limão n'água e fiquei vendo na margem
Os peixinhos responderam:Quem tem amor tem coragem

Atirei um limão n'água e caiu enviesado
Ouvi um peixe dizer: -Melhor é o beijo roubado


Atirei um limão n'água como faço todo ano
Senti que os peixes diziam: Todo amor vive de engano

Atirei um limão n'água como um vidro de perfume
Em coro os peixes disseram:Joga fora teu ciúme

Atirei um limão n'água mas perdi a direção
Os peixes, rindo, notaram: Quanto dói uma paixão!

Atirei um limão ná'água ele afundou um barquinho
Não se espantaram os peixes, faltava-me o teu carinho

Atirei um limão n'água, o rio logo amargou
Os peixinhos repetiram:É dor de quem muito amou

Atirei um limão n'água, o rio ficou vermelho
E cada peixinho viu meu coração num espelho



Atirei um limão n'água mas depois me arrependi
Cada peixinho assustado me lembra o que já sofri

Atirei um limão n'água antes não tivesse feito
Os peixinhos me acusaram de amar com falta de jeito

Atirei um limão n'água, fez-se logo um burburinho
Nenhum peixe me avisou da pedra no meu caminho

Atirei um limão n'água de tão baixo ele boiou
Comenta o peixe mais velho: Infeliz quem não amou



Atirei um limão n'água, antes atirasse a vida
Iria viver com os peixes a minh'alma dolorida

Atirei um limão n'água pedindo à água que o arraste
Até os peixes choraram porque tu me abandonaste

Atirei um limão n'água foi tamanho rebuliço
Que os peixinhos protestaram:Se é amor, deixa disso

Atirei um limão n'água, não fez o menor ruído
Se os peixes nada disseram, tu me terás esquecido?

Atirei um limão n'água, caiu certeiro: zás-trás
Bem me avisou um peixinho, fui passado para trás



Atirei um limão n'água, de clara ficou escura
Até os peixes já sabem:Você não ama, tortura

Atirei um limão n'água e caí n'água também
Pois os peixes me avisaram que lá estava meu bem

Atirei um limão n'água, foi levado na corrente
Senti que os peixes diziam: Hás de amar eternamente














As sem razões do amor
Eu te amo porque te amo. Não precisas ser amante, e nem sempre sabes sê-lo
Eu te amo porque te amo. Amor é estado de graça e com amor não se paga
Amor é dado de graça, é semeado no vento, na cachoeira Amor foge a dicionários e a regulamentos vários
Eu te amo porque não amo bastante ou demais a mim
Porque amor não se troca, não se conjuga nem se ama
Porque amor é amor a nada,feliz e forte em si mesmo
Amor é primo da morte, e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam) a cada instante de amor
















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