domingo, 19 de julho de 2009

dois poetas portugueses

Sim, sei bem
Que nunca serei alguém.
Sei de sobra
Que nunca terei uma obra.
Sei, enfim, que nunca saberei de mim.
Sim, mas agora, enquanto dura esta hora
Este luar, estes ramos, esta paz em que estamos
Deixem-me crer o que nunca poderei ser.

Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és no mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda brilha, porque alta vive.

Fernando Pessoa





Sempre a Razão vencida foi de Amor
Mas porque assim o pedia o coração
Quis Amor ser vencido da Razão
Ora que caso pode haver maior!
Novo modo de morte e nova dor!
Estranheza de grande admiração
Que perde suas forças a afeição
Por que não perca a pena o seu rigor
Pois nunca houve fraqueza no querer
Mas antes muito mais se esforça assim
Um contrário com outro por vencer
Mas a Razão, que a luta vence, enfim
Não creio que é Razão
Mas há de serInclinação que eu tenho contra mim.

Luís de Camões

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