sábado, 30 de julho de 2016

"Não é pouca coisa admitir seu desejo. Muitas pessoas precisam para isso de um esforço especial de sua lealdade. Muitos não querem saber onde está seu desejo, pois lhes pareceria impossível ou por demais doloroso. E, apesar disso, o desejo é o caminho da vida. Se não admites teu desejo, não segues a ti mesmo, mas trilhas de caminhos estranhos, prescritos por outras pessoas. Mas quem deve viver tua vida, se tu não a vives?

Não é apenas imbecilidade trocar sua própria vida por uma estranha, mas também é uma brincadeira estúpida, pois nunca conseguirás viver realmente a vida de outra pessoa, tu apenas a finges, enganas o outro e a ti mesmo, pois só podes viver tua própria vida.

Se desistires de teu si-mesmo, vais vivê-lo em outra pessoa, tu te tornarás egoísta em relação a ela e, assim, enganarás a outra pessoa. Todos acreditam que tal vida é possível. Mas é apenas imitação simiesca. A fim de ceder a teus apetites simiescos, contaminas a outra pessoa, porque o macaco estimula o simiesco. Assim, fazes de ti e da outra pessoa um macaco. Através da imitação mútua viveis segundo a expectativa medana, para a qual foi estabelecida em toda a época, através dos desejos de imitação de todos, uma imagem, um herói. Por isso o heroi foi assassinado, pois tornamos-nos todos para ele macacos. Sabes porque não consegues abrir mão do simiesco? Por medo da solidão e da sujeição."

"Mas como posso conseguir o saber do coração? Só poderás conseguir este saber vivendo plenamente tua vida. Tu vives tua vida plenamente quando tu vives aquilo que nunca viveste, mas sempre deixaste para que os outros vivessem e pensassem. Tu dirás: 'Eu não posso viver ou pensar tudo o que os outros vivem e pensam.'  Mas deves dizer: 'A vida que eu ainda poderia viver, eu deveria viver, e o pensar que eu ainda poderia pensar, eu deveria pensar.'  Tu queres fugir de ti, para não teres de viver aquilo que não foi vivido até agora. Mas não podes fugir de ti mesmo. Isto está o tempo todo contigo e exige realização. Se te colocares cega e surdamente esta exigência, tu te colocarás cega e surdamente contra ti mesmo. Então jamais alcançarás o saber do coração.

O saber do coração é como teu coração é.

De um coração mau, conheces coisa má.

De um coração bom, conheces coisa boa.

Para que vosso conhecimento seja completo, considerai que vosso coração é ambos: bom e mau. Tu perguntas: 'Mas como? Devo também viver o mal?'

O espírito da profundeza exige: 'A vida que ainda poderias viver, deverias viver. O bem decide, não teu bem, não o bem dos outros, mas o bem'."

Liber Primus, C.G.J.

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